quarta-feira, junho 20, 2007

Rio, RJ - Off-Tap - Contemporâneo

Reportagem de Silvia Soter sobre a apresentação do Nederlands Dans Theater recentemente no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicada neste dia 20.06.2007 no Segundo Caderno de O Globo:

Bailarinos de até 22 anos firmes como veteranos
Nederlands Dans Theater II: Uma das companhias jovens mais impressionantes do mundo no Rio

(Silvia Soter)


Um Teatro Municipal lotado acolheu calorosamente, no último fim de semana, a passagem da Nederlands Dans Theater II pelo Rio de Janeiro. Nesta turnê, o programa de uma das companhias jovens mais impressionantes do mundo tem dois apelos especiais para os brasileiros: uma coreografia de Henrique Rodovalho, diretor da Quasar, e a bela presença da cada dia mais competente carioca Nina Botkay.

"27'52''", de Jiri Kylian -- artista que criou a NDT II e dela foi diretor artístico até 1999 --, abriu a noite mostrando que o coreógrafo não se deixou acomodar. Com o rigor e a criatividade de sempre, a peça de Kylian surpreende pela simplicidade e pela contemporaneidade.

A técnica de base clássica da companhia, terreno onde mais de 50 coreografias de Kylian se desenvolveram, colocase de lado para deixar emergir corpos que se movimentam no limite do descontrole, como que movidos de fora e em tensão permanente.

O título da peça joga com a idéia de que aquela quase meia hora de coreografia é fruto de um grande número de horas de trabalho que poderia nem aparecer. Não é o caso aqui. A precisão e a economia da peça são o evidente resultado da experiência de um artista inspirado, que mantém cada um dos bailarinos no limite de suas possibilidades e de seu comprometimento. É interessante ver como o estado de tensão que oscila sem se desmanchar ao longo da peça consegue ser carregado por pessoas tão jovens. Vale lembrar que a NDT II é composta por bailarinos de até 22 anos.

Henrique Rodovalho criou para a NDT II uma peça de exportação, para o bem e para o mal. Se, por um lado, a trilha de bossa nova e a movimentação suingada resultam numa peça agradável e de rápida comunicação com o público, por outro lado "Sob a pele" não voa mais alto. O material humano que teve à sua disposição não conseguiu desviar o coreógrafo de trilhas percorridas anteriormente.

"Spit" reúne extratos de vários trabalhos anteriores de Ohad Naharin, diretor artístico da companhia israelense Batsheva. É interessante ver o vigor e a potência da dança de Naharin em corpos tão jovens.

O caráter coletivo de algumas das coreografias ganha neles um sabor especial. Mais uma vez, impressiona o engajamento dos bailarinos, que conseguem ir fundo em cada uma das propostas apresentadas. No entanto, é provável que "Spit" funcionasse melhor como um pot-pourri mais assumido. A tentativa de costura entre um extrato e outro enfraquece o todo. Ainda mais quando fecha uma noite que foi inaugurada pela escrita genial de Jiri Kylian.

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