Rio, RJ - Mídia - Discos de Tango e Flamenco
Novas vertentes para perenes ritmos
Tango e flamenco ganham sotaque atual nos discos do Bajofondo e da espanhola Buika
"Mar dulce" - Bajofondo Tango Club
Cotação Antônio Carlos Miguel: ***
"Mi niña Lola" - Buika
Cotação Antônio Carlos Miguel: ****
‘Você tem os sentimentos fundamentais para o tango, que são melancolia, tristeza e paixão". É com essas palavras que o produtor, compositor e guitarrista argentino Gustavo Santaolalla incentiva inglês Elvis Costello, num vídeo que documenta a sessão de gravação de "Fairly right", faixa sete de "Mar dulce" (Universal).
O novo disco do Bajofondo Tango Club -- com lançamento mundial previsto para a primeira semana de setembro -- mantém o encanto desse tango contemporâneo, revisto por um grupo de jovens argentinos e uruguaios que injeta eletrônica e batidas dance ao secular ritmo portenho. Enquanto isso, no outro lado do Atlântico, a jovem cantora compositora Buika faz algo similar pelo flamenco em "Mi niña Lola" (Warner), reafirmando a força do gênero espanhol.
Além de Costello -- o artista new wave que virou muitos outros, indo do jazz à música clássica em três décadas de rica carreira --, mais convidados mergulham em "Mar dulce", incluindo a cantora canadense (de origem portuguesa) Nelly Furtado, o bandoneonista japonês Ryota Komatsu e gente do rock argentino como Gustavo Cerati (do Soda Stereo) e Juan Subirá (do Bersuit Vergarabat). Se não voa tão alto quanto o revolucionário Astor Piazzolla e seu "tango nuevo", o Bajofondo, que estreou em disco em 2002, continua agradável e dançante.
Em relação ao primeiro CD do grupo e também ao projeto lançado há dois anos de um dos seus músicos, Luciano Supervielle, a sonoridade de "Mar dulce" está mais próxima de uma banda ao vivo, remetendo ao concerto que o Bajofondo fez no Canecão em maio passado, quando Santaolalla (compositor com dois prêmios Oscar na estante, pelas trilhas de "O segredo de Brokeback Mountain" e "Babel") participou do festival Música em Cena -- 1º Encontro Internacional de Música de Cinema.
Quem jogar "Mi niña Lola" no programa iTunes verá que, automaticamente, o disco dessa espanhola de 35 anos, nascida em Palma de Mallorca (mas com raízes africanas, família da Guiné Equatorial), será rotulado como "r&b". Mas, felizmente, a música de Concha Buika é flamenca -- com tinturas de bolero e rumba caribenhos e até um tango, "Nostalgias" --, distante, portanto, do insosso rh yth m‘n’ blu es atual. Buika é autora de seis das 11 faixas do álbum, que foi produzido pelo compositor e músico de flamenco Javier Limón.
Sim, um flamenco contemporâneo, que, instrumentalmente, estende ainda pontes com o jazz, graças ao acompanhamento de trompete, bateria, piano e violão -- este, nas mãos de outra nova estrela do gênero, Niño Josele, que, no início deste ano, lançou o ótimo disco "Paz", com versões pessoais do repertório do pianista de jazz Bill Evans.
Mas o destaque é Buika, com sua voz rouca -- e que, em algumas faixas, também cuida de programações, toca piano e baixo -- e suas composições, entre elas, pérolas de dor e superação como "A mi manera", "Loca" e "Jodida pero contenta".
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