São Paulo, SP - Off-Tap - Teatro
Mito de Carmen Miranda é revisto por Antunes Filho em espetáculo sem texto
(Márcia Abos)
SÃO PAULO - Os mitos da cantora Carmen Miranda e da bailarina La Argentina (Antonia Mercé y Luque), para quem o mestre do butô (mistura de dança e teatro criada no Japão após a 2ª Guerra Mundial) Kazuo Ohno criou sua obra-prima, se fundem no espetáculo "Foi Carmen", a quarta estréia de uma profícua temporada de Antunes Filho.
"Foi Carmen" é uma criação de 2005, ano em que Antunes Filho foi convidado a criar um espetáculo para celebrar o centenário de Kazuo Ohno. A peça estreou com sucesso no Japão e chegou a ser apresentada no Rio de Janeiro, onde dividiu público e crítica, antes de iniciar a temporada no Sesc Consolação.
- Sempre temi fazer este espetáculo em São Paulo, pois o achava muito sofisticado. O resultado da estréia na capital paulista me surpreendeu. Tinha tudo para dar errado, mas fiquei bobo com a reação do público, cuja acolhida foi mais calorosa do que com " Senhora dos afogados ". Houve um milagre - diz Antunes, sem esconder o entusiasmo, após ter amargado críticas negativas na apresentação carioca de "Foi Carmen".
"Foi Carmen" não fala sobre Carmen Miranda, mas sim sobre o imaginário popular a respeito da cantora.O objetivo de Antunes é estimular a reflexão sobre fetichismo e estereótipos, além de arquétipos, um tema constante no trabalho do encenador.
O espetáculo não tem texto, apesar de um trecho ser falado em "fonemol", língua criada por Antunes, já utilizada em espetáculos anteriores como "Nova velha estória" e "Drácula e outros vampiros".
- No "fonemol", o público traduz as palavras de maneira espiritual - define Antunes.
Assim, a Carmen Miranda retratada por Antunes carrega consigo o significado do arquetípico do herói, que sai de sua terra e atravessa fronteiras para vencer.
- Carmen está além do racional. Já faz parte de nosso inconsciente coletivo - completa o encenador.
A ação começa com uma menina, que é observada por três senhoras, enquanto sonha em se tornar uma artista e veste um turbante. As senhoras aplaudem. De repente tudo se dissipa e a garota se dá conta de que era apenas um sonho.
Surge o Malandro que conta em "fonemol" a biografia de Carmen Miranda. Caminhando pelas ruas antigas do Rio de Janeiro, relembra momentos da cantora. Assusta-se de repente com uma visão sobrenatural e segue o vulto.
O espetáculo termina com uma homenagem a "La Argentina", de Kazuo Ohno, por meio do mito de Carmen Miranda.
- São apenas quatro atores em cena, mas eles parecem uma multidão - conclui Antunes.
"Foi Carmen"
Até 29 de julho, às terças, 21h, no Sesc Consolação.
Teatro Sesc Anchieta. Rua Dr. Vila Nova, 245.
Informações: 11 3234-3000. R$ 10.
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