domingo, junho 24, 2007

Rio, RJ - Off-Tap - Teatro

Crítica de Barbara Heliodora para a versão brasileira de "O Baile", de Jean-Claude Pinchenat e que virou um clássico no cinema nas mãos do cineasta Ettore Scola.

Momento excepcional de música e teatro

O baile: Harmonia de dança, música, luz, figurinos e cenários faz da montagem dirigida por José Possi Neto no Sesc Ginástico um belo espetáculo

(Barbara Heliodora, O Globo, 22.06.2007)


Agora é a vez de a dança contar sua história sobre o século XX. Camargo acalentou longamente o sonho de ver no palco uma versão brasileira do memorável "Le bal", original de Jean-Claude Pinchenat, e o que parecia realmente impossível agora foi realizado com um roteiro brasileiro assinado por Valderez Cardoso Gomes. Contar uma história sem palavras, com base em comportamentos e ritmos mais do que em mímica, não era tarefa nada fácil, e não há dúvida de que, fim de fazer ter lugar "O baile", os preparativos teriam de ser muito cuidados.

Em primeiro lugar seria necessário um local, um salão feito para a dança. Este foi devidamente encontrado, no palco do Teatro Sesc Ginástico, pelas mãos de Helio Eichbauer, que criou um impecável ambiente art déco, um trabalho da mais alta categoria, tão bonito quanto funcional e evocativo, lindamente iluminado por Aurélio de Simoni, onde teria de ser tocado todo um repertório de várias épocas feito para se dançar, sendo entregue a direção musical a Liliane Secco. Não adiantava a música certa ser tocada, é claro, se os dançarinos não invocassem cada década com precisão, e por isso mesmo foi procurada Marília Carneiro, apaixonada por pesquisa de época e com a criatividade correspondente, para popular o salão com autenticidade; mas a dança, como tudo mais, vai mudando com o tempo, e por isso era necessário encontrar um mestre da dança de salão, o que incorporou Carlinhos de Jesus à equipe, com a complexa tarefa de criar coreografias em harmonia com as intenções do diretor.

É difícil, ou impossível, destacar algum quadro, pois tudo é muito bem-feito (mesmo que os atores-dançarinos não sejam cantores) e cada um tenha seu charme especial, com as várias modas provocando ao mesmo tempo o riso e a nostalgia.

Para coordenar, ou orquestrar tudo isso, foi chamado José Possi Neto, que tinha um passado de teatro-dança, e ele criou realmente o universo de "O baile", no qual os freqüentadores do lugar não só dançam como têm toda a variedade de atividades paralelas (claro que em dimensões teatralizadas) que dão vida ao todo. A direção é precisa, aproveita os tipos apontados no roteiro, distribui ações e dá o espaço adequado para a coreografia, compondo um todo no qual todos têm suas oportunidades, mas permanecem sempre apenas uma parte da estrela do espetáculo, que é o próprio "baile".

Adriana Nogueira, Alice Borges, Anna Claudiah Vidal, Antonio Negreiros, Beth Lamas, Carlinhos de Jesus, Charles Fernandes, Cláudia Mauro, Cláudio Lins, Cláudio Tovar, Édi Botelho, Édio Nunes, José Paulo Correa, Luciano Quirino, Marcos Acher, Maria Salvadora, Najla Raja, Patrícia Carvelho-Oliveira, Sandra Pêra e Tássia Camargo compõem um elenco de iguais. Sem dúvida há momentos em que alguns são mais iguais que os outros, porém a harmonia do conjunto é que torna "O baile" um espetáculo de excepcional qualidade. Os músicos fazem contribuição relevante para esse momento raro de música e teatro.

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