São Paulo, SP - Off-Tap - Os Sete Pecados Capitais
Não dá nem para começar a desenredar as ambiguidades de comemorar a Revolução Constitucionalista de 1932 com uma encenação de "Os Sete Pecados Capitais", composta um ano depois por Kurt Weill (1900-50), com libreto de Brecht (1898-1956). Elas só se multiplicavam anteontem no Auditório Claudio Santoro lotado -inclusive corredores e escadarias, onde se apertavam alunos desse 39º Festival de Campos do Jordão. Que a situação parecia brechtiana é algo que o próprio dramaturgo teria apreciado. Como teria apreciado as artes da soprano alemã Gun-Brit Barkmin não apenas no "balé cantado" de 1933, mas também nas cinco canções que ela apresentou na primeira parte, acompanhada sem muito charme pelo holandês John Snijders, mas esbanjando charme para compensar. Dois anos atrás, Barkmin já tinha colaborado em montagens da peça pela Ópera de Lyon, regidas pelo mesmo Roberto Minczuk, diretor artístico do Festival. E, no mês passado, cantou de novo com Minczuk, nessa produção dirigida por Carla Camurati no Teatro Municipal do Rio de Janeiro -circunstância que rendeu uma parceria com a bailarina Ana Botafogo e seus dois "partners", Douglas Ravadielli e Pedro Cassiano. É uma estranha peça, mistura de ópera, teatro épico brechtiano e dança, satirizando as "virtudes" de uma bem-sucedida vida nas cidades da América moderna. A coreografia original foi criação de Balanchine; não a dançada aqui, de autoria não declarada.
Com uma artista como Ana Botafogo, qualquer ação vira imediatamente expressão: ela instila vida até no gesto mais gasto e até nas formas narrativas mais previsíveis. Soma-se a isso um talento histriônico que nem sempre tem chance de aparecer, mas aqui teve direito até a pequenas cenas e pequenas falas. O cenário combina um labirinto de tule com um grande círculo translúcido azul atrás do qual fica o bom quarteto masculino, pontuando a história (destaque para o tenor paraense Atalla Ayan). Tule, círculo e tudo mais são cobertos, quase todo tempo, por projeções cinematográficas reproduzindo ou imitando filmes da década de 30. Num palco menos largo, a combinação de tantas coisas -incluindo as legendas, nas laterais- seria mais fácil de ver e faria maior sentido. No Alasca do Claudio Santoro, não há globo ocular que dê conta. Talvez haja algum excesso mesmo nessas sobreposições, que acabam transformando sentido em cenário. Mas é um cenário, afinal, para essa música e para essas letras, que obrigam a gente a pensar sobre a vida, três quartos de século depois do 9 de julho. Não é a menor lição de um festival, que segue como pode seu caminho.
FESTIVAL DE INVERNO DE CAMPOS DO JORDÃO; até 27.07.2008
Programação: veja os próximos concertos em
www.festivalcamposdojordao.org.br
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