Rio, RJ - Off-Tap - Contemporâneo
Quatro semanas de movimentos em trânsito
Ruas se unem à rotunda e ao teatro do CCBB para abrigar espetáculos de dança nacionais e internacionais
(Suzana Velasco)
Já é raro o Rio ter uma série de dança contemporânea. Mais raro ainda uma que reúna cerca de 20 grupos e bailarinos, nacionais e internacionais, em espetáculos nas ruas da cidade e no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Essa overdose de dança começa amanhã, com a união do Dança em Trânsito, que tradicionalmente leva apresentações para espaços abertos, como o Paço Imperial e a Cinelândia, e da série 4 Movimentos, que realiza sua terceira edição no CCBB a primeira com uma curadoria, como era habitual no antigo festival Dança Brasil.
Todos os trabalhos, inéditos no Rio, uniram-se pela curadora Giselle Tápias, que aposta na diversidade para atrair o público.
-- O Dança em Trânsito entra no centro cultural, com espetáculos na rotunda, que é um espaço ótimo para a dança -- afirma Giselle, que leva o projeto simultaneamente ao CCBB de Brasília. -- Tentei criar uma flexibilidade. Às vezes, um mesmo artista dança uma coreografia na rotunda e outra no teatro. O público poderá vê-lo de vários ângulos.
Dança na rotunda precede espetáculos no teatro
Cada semana de abril corresponderá a um "movimento". O primeiro será o próprio Dança em Trânsito, com apresentações amanhã, às 12h, na Praça Quinze; sextafeira, às 11h, na Cinelândia; sábado, às 11h, no Parque da Catacumba; e domingo, às 11h, em plena Praia de Copacabana, em frente à Praça do Lido. Em cena, nomes tão diversos quanto o X-Style, formado por 14 dançarinos de hip hop, e os espanhóis Damián Muñoz e Virginia Garcia.
A dupla da Espanha também se apresentará amanhã no Teatro I do CCBB, às 19h.
Nesta primeira semana, o centro cultural também receberá Toni Rodrigues, Alexandre Bado e a companhia Passarelle, da Bélgica.
-- Tive que analisar bem o trabalho de cada um para ver o que se encaixava melhor em cada espaço -- diz Giselle. -- O Toni Rodrigues, por exemplo, trabalha com uma grande escultura vermelha, por isso achei interessante que ele estivesse na rotunda. O Damián Muñoz participa de quase todos os festivais de dança em paisagens urbanas (projeto internacional nos moldes do Dança em Trânsito) e tem um carisma muito forte, por isso,além de usar o teatro, ele também dança na rua.
Este ano, pela primeira vez, a dança, que costumeiramente ocupava o Teatro II, ganha mais prestígio e ocupa o principal palco do centro cultural.
A partir da semana que vem, o Dança em Trânsito sai de cena e deixa que o Teatro I abrigue as principais atrações do 4 Movimentos. O CCBB receberá um novo trabalho da Focus Cia. de Dança, na rotunda, seguido da apresentação da companhia italiana Caterine Sagna.
Já na terceira semana, o teatro será palco para três diferentes espetáculos seguidos, às 19h. Três bailarinas do corpo de baile do Teatro Municipal vão deixar de lado o balé clássico e entrar em cena coreografadas por Flávia Tápias; a Laso Cia. de Dança apresentará "Identidade deslocada", dirigida por Carlos Laerte; e Paula Águas vai estrear "Dama", criada por Daniela Visco.
Daniela também dará uma oficina junto com a percussionista Lan Lan, no dia 22, a partir das 13h.
-- Em sânscrito, dama significa controle dos órgãos do sentido. O que eu e a Paula tentamos pensar é como trazer esses princípios invisíveis, o universo mais sutil, para o mundo visível. A Paula é uma bailarina madura e está muito aberta para receber isso -- afirma Daniela. -- Em relação à oficina, venho trabalhando com a Lan Lan, há um ano, etenho sentido que o trabalho com a percussão traz uma qualidade bem ritualística, é quase uma invocação, um chamado. Lan Lan sempre traz a um universo muito diferente.
Renato Vieira dança Pixinguinha e Chico Buarque
Na quarta e última semana do festival, a companhia francesa Pernette se apresentará na rotunda, e a carioca Renato Vieira Cia. de Dança vai estrear sua nova criação, "Canção". Para esse novo espetáculo, Vieira quis resgatar a poesia de músicas letradas, distantes do universo da dança contemporânea, que trabalha sobretudo com sons eletrônicos. "Carolina" e "Eu te amo", de Chico Buarque, e "Rosa", de Pixinguinha, ganharam arranjos e voz de Chico Mello, numa trilha criada por Tato Taborda. Jean Gama, um dos cinco bailarinos da companhia, criou a coreografia de "Rosa".
-- A dança foi por um caminho musical que está ficando chato -- ri Vieira. -- Em "Canção", os arranjos têm uma roupagem contemporânea, mas é tudo cantado. Em dança contemporânea, não se usa muito música com letra porque é uma armadilha: ou o movimento descreve letra ou não tem nada a ver com ela. Mas hoje os sons não tocam a alma. Queria resgatar essa carga emocional que vem na letra dessas canções, uma música que agrade aos ouvidos.
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