Rio, RJ - Off-Tap - Temporada 2007
Em 2007, dança contemporânea rouba a cena
(Eduardo Fradkin)
A dança contemporânea vai dominar a cena em 2007, seguida pelo balé moderno e pelo flamenco. O clássico não deverá ter vez, a não ser em duas produções do Teatro Municipal (anunciadas na reportagem abaixo desta). Na agenda da Dell’Arte Soluções Culturais -- que promove a série O Globo Em Movimento -- já constam cinco atrações internacionais. Outras ainda dependem de negociação.
Sem delongas, as confirmadas são: Momix, Complexions, Companhia (de flamenco) Antonio Gades, Les Ballets Trockadero de Monte Carlo (ou Trocks) e Balé de Zurique. As duas últimas, apesar de terem balé no nome, não advogam o clássico. Os Trocks fazem dele uma paródia, e o grupo de Zurique dança um vigoroso balé moderno.
A Antares, outra atuante produtora, confirmou a vinda, em junho, do Nederlands Dans Theater, uma companhia holandesa de dança contemporânea fundada em 1959. Ela se subdivide em três grupos. O que virá ao Brasil é o segundo, formado por bailarinos de 17 a 22 anos de idade. Esse subgrupo, que possui repertório próprio, existe desde 1978 e conta com 16 integrantes.
Outras duas atrações da Antares dependem de patrocinador. São a Akram Khan Company, da Inglaterra, prevista para setembro, e, para outubro, a coreana JUMP!, que executa coreografias fortemente inspiradas nas artes marciais.
A temporada carioca da Dell’Arte começará dia 13 de março com o Balé de Zurique. A companhia, composta por 40 bailarinos provenientes de todo o mundo (até do Brasil), dançará ao som de algumas das belíssimas suítes para violoncelo solo de Bach, tocadas ao vivo por um músico no palco.
Em São Paulo, eles se apresentarão num lugar inusitado.
-- Será a primeira vez que se fará um espetáculo de dança no Auditório do Ibirapuera. Os próprios suíços o visitaram e o aprovaram. Em 2007, o Teatro Municipal de São Paulo ficará fechado e isso gerou um enorme problema, pois não é rentável trazer grupos para apresentações apenas no Rio. Ao contrário do que se pensa, em São Paulo falta equipamento cultural. As alternativas ao Municipal são apenas os teatros Alfa e Sérgio Cardoso, que é pequeno -- reclama o diretor executivo da Dell’Arte, Steffen Dauelsberg.
Em maio, os cariocas verão Complexions, uma companhia que expressa a "diversidade cultural da América", com 18 bailarinos. Segundo Dauelsberg, será um espetáculo para toda a família, alegre e com elementos cênicos surpreendentes.
Em agosto, outra companhia americana, a aclamada Momix, voltará ao Rio.
-- Serão, no mínimo, dez apresentações, com três programas diferentes. Um deles será "Opus cactus" (encenado aqui em 2002) e outro será "Lunar sea" (montado aqui em 2005). O terceiro ainda não foi escolhido -- diz Dauelsberg.
Os dois últimos convidados serão os Trocks, em setembro, e a Cia. Antonio Gades, de dança flamenca, em outubro.
-- Os Trocks têm uma técnica impecável e a usam para fazer humor com o balé clássico. Mas é um humor inteligente, e não grosso -- comenta o executivo da Dell’Arte, frisando que todas as datas no Rio dependem de aprovação do novo diretor do Teatro Municipal.
No cenário nacional também haverá novidades. O Grupo Corpo, de Belo Horizonte, estreará em agosto, em São Paulo, um novo espetáculo, que abordará a competição por espaços. A trilha-sonora é de Lenine, que chamou Igor Cavalera (ex-Sepultura) para tocar bateria. Depois de duas semanas em Sampa, o grupo, que tem 20 bailarinos, virá para o Municipal do Rio, onde ficará em cartaz durante pelo menos uma semana.
Antes disso, a coreógrafa Dani Lima concluirá a trilogia "Vida real em três capítulos" com uma instalação multimídia chamada "Eu é um outro" e, ainda no primeiro semestre, mostrará, no Rio, os três capítulos juntos. Regina Miranda já está ensaiando um trio com o ator Edilson Botelho e a bailarina Marina Salomon.
O espetáculo, ainda sem título, baseia-se na peça "Love letters", de A.R. Gurney. O tema é a correspondência de dois amigosamantes através do tempo.
Um diretor entre o balé e o carnaval
(Eduardo Fradkin)
O diretor do corpo de baile do Teatro Municipal, Marcelo Misailidis, está com a programação de balés de 2007 pronta, mas ela ainda terá de ser ratificada pelo musicólogo Luiz Paulo Sampaio, que assumirá a direção da casa no ano que vem. Apesar da ressalva, Misailidis, que foi primeiro bailarino do Municipal por 15 anos, não se recusou a divulgar as atrações. Curioso foi o lugar escolhido para a entrevista: um ensaio do Salgueiro. Misailidis é coreógrafo da comissão de frente da escola de samba tijucana.
Para abrir a temporada de 2007, no fim de março, ele planejou uma reprise do clássico "O lago dos cisnes", com música de Tchaikovsky. O balé foi apresentado em setembro deste ano.
-- É um espetáculo que não exigirá investimento, pois será uma remontagem. Além disso, é uma obra importante que não pode sair do repertório do nosso conjunto. Depois desse teremos novidades -- observa Misailidis, que tem 38 anos e três Estandartes de Ouro em casa, conquistados em nove anos de trabalho no carnaval.
Entre as novidades, há uma coreografia de George Balanchine, russo que se exilou nos Estados Unidos e lá desenvolveu uma nova forma de dança mesclando uma base arraigada no balé clássico com idéias inovadoras e muita velocidade.
Também será encenada uma coreografia do americano Jerome Robbins, que colaborou em musicais famosos como "West Side story", "O rei e eu" e "Um violinista no telhado".
Em seguida, os cariocas verão "A sagração da primavera", balé revolucionário de Stravinsky, que motivou vaias e tumulto na sua estréia parisiense, mas com o tempo se tornou um clássico moderno.
Depois, será encenada uma coreografia de Roland Petit, que já foi definido como criador de espetáculos que misturam tragédia e champanhe, sendo uma síntese do povo francês. Misailidis ainda não escolheu uma obra desse coreógrafo, mas está inclinado para "Notre-Dame de Paris". Para fechar a temporada, a escolha foi a mais previsível possível: "O quebra-nozes".
A atuação de Misailidis à frente do corpo de baile não se restringe a montar uma programação e ensaiar o grupo. Neste ano, ele iniciou um projeto de workshops para capacitar os bailarinos com noções de direção, iluminação e outras funções técnicas. Ele anuncia que o projeto continuará em 2007. Além dos workshops, foi formada uma turma de bailarinos (voluntários) para fazer um curso de licenciatura em dança na UniverCidade, com bolsa de estudos.
-- Quero propiciar também viagens do corpo de baile para outros estados. Para isso, estou tentando parcerias com companhias de São Paulo, Belo Horizonte e Salvador. Elas viriam se apresentar no Municipal do Rio e nós iríamos para os palcos deles — planeja Misailidis.
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