Rio, RJ - Off-Tap - Testes do Pan
Shows do Pan atraem dançarinos voluntários
Seleção de bailarinos reúne profissionais e amadores; repórter do GLOBO se inscreve para entrevistar coreógrafo americano
Sábado, fim de tarde. Depois de ser fotografado duas vezes, ter tirado as medidas de testa, peito, cintura e quadril, e preenchido uma ficha com todos os dados pessoais, um grupo de 90 pessoas espera pacientemente para entrar na sala de uma academia da Zona Sul do Rio. Lá dentro, está prestes a começar, sob a supervisão do americano Doug Jack, mais uma seleção de voluntários para dançar nas cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Pan-Americanos. No grupo, estavam, entre outros, jovens da Baixada Fluminense assistidos por ONGs, alunos e professores de academias de ginástica e um repórter do GLOBO.
Inscrever-se para fazer um teste de dançarino voluntário foi a única maneira encontrada para se aproximar de Doug Jack, após vários pedidos de entrevista recusados pelo Comitê Organizador do Jogos Pan-Americanos (CO-Rio). A entidade tenta manter em sigilo os detalhes dos preparativos para as cerimônias - que devem contar com até sete mil dançarinos amadores e profissionais - com o objetivo de não diminuir o impacto do evento.
Enquanto aguardavam sua vez de se apresentar, os candidatos assistiram num auditório a um vídeo sobre a carreira de Doug Jack, que coordenou as cerimônias de quatro Jogos Olímpicos e de duas Olimpíadas de Inverno, entre outras competições. Tempo suficiente para que, na sala de seleção, a equipe de Jack, formada por brasileiros e um inglês, avaliasse dançarinos de academias que farão a parte mais complexa da coreografia. De longe, foi possível observar, por exemplo, que na cerimônia os bailarinos simularão o movimento de pássaros. Tratase de uma referência direta ao símbolo da Rio-2007, que lembra aves em pleno vôo.
Muitos segredos da coreografia estão por desvendar:
- Eles apresentam apenas trechos, para manter o segredo. Da outra vez que eu trouxe alunos, fizeram um movimento diferente - comenta a diretora de uma academia de ginástica de Niterói, sem saber que conversava com um jornalista.
O grupo em que estava o repórter (candidato 2.214) era formado por amadores. Muitos, como o jornalista do GLOBO, sem qualquer experiência em dança. Enquanto Jack observava, o inglês Brins Walter, num português razoável aprendido em apenas três meses de Brasil, incentivava os candidatos.
- Não tem problema errar a coreografia. Mas não se esqueçam de sorrir - dizia Walter.
Todos tiveram que fazer uma coreografia relativamente simples. Mas suficiente para suar a camisa, com tantos passos para frente, para trás, levantar, abaixar os braços e dar rodopios.
À frente do grupo, Jack incentivava os participantes com o auxílio de uma tradutora e não parava de fazer anotações. No meio da coreografia, o grupo tinha que soltar um gritinho que deve causar sensação no Maracanã, onde serão realizadas as cerimônias: "Rou rou!"
Foram três horas entre o tempo de espera e o final da seleção. A escolha de dançarinos prossegue nos próximos dias. No fim de semana que vem, a seleção acontece numa universidade em Bonsucesso.
A propósito, o repórter foi embora sem saber se foi aprovado no teste. Como no caso dos demais candidatos, a resposta vai chegar por email ou por telefone, a partir do dia 15 de abril.
Pelo menos 20 mil serão avaliados
Doug Jack acredita que a oportunidade de viver uma experiência única é o que faz com que milhares de pessoas se inscrevam para participar como voluntárias das cerimônias de abertura de competições esportivas. A regra vale no Rio e em outras cidades onde organizou eventos, como nas Olimpíadas de Barcelona (1992), Atlanta (1996), Sidney (2000) e Atenas (2004). No Rio, ele calcula que, para escolher os participantes das cerimônias, pelo menos 20 mil candidatos serão avaliados.
- As pessoas começam tímidas e se soltam depois. Minha experiência mostra que o entusiasmo dos voluntários sempre permite que façamos algo grandioso. Ninguém precisa estar apto a participar de um programa como o "American idol" (versão americana do "Fama") para dançar num evento como esse - diz Jack, numa rápida entrevista depois de mais um dia de seleção, após o repórter se identificar.
Cada grupo ensaia a coreografia conforme as limitações físicas e técnicas. Os bailarinos profissionais são mais exigidos. Quanto ao que acontecerá no Rio, Jack explica que, por questões contratuais, não pode dar detalhes das cerimônias. Ele faz uma comparação com os preparativos de uma escola de samba.
- As surpresas são mantidas em segredo pelos carnavalescos para causar impacto no desfile. O mesmo acontece nas cerimônias dos grandes eventos esportivos.
A equipe responsável pelo show conta com coreógrafos brasileiros. Entre os coordenadores, está a carnavalesca Rosa Magalhães.
Fonte: jornal O Globo, 26.03.2007.
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