Joinville, SC - Matéria Sobre a Noite do Sapateado
A vez das placas de metal
Sapateado ganha pitada de ousadia e bailarino carioca tem noite de astro no balé
(Marcela Benvegnu)
Na noite fria (e chuvosa) de quarta-feira, quem subiu ao palco do Centreventos Cau Hansen para se apresentar nas baterias de sapateado (júnior, sênior e avançado) e balé clássico de repertório (variação feminina júnior e grand pas-de-deux avançado) pôde se esquentar. Os aplausos foram calorosos e as coreografias parecem ter atingido o ápice da competição.
No sapateado, também conhecido como tap dance, foi a vez da estreante Companhia Feeling de Dança, de São José dos Campos, com a coreografia “Breaking Rules”, de Charles Renato se destacar. Ao som de "Heartburn", de Alicia Keys, o trabalho inserido na categoria avançada propõe um bom duelo de sapateadores e revela um bom domínio técnico, que vai além da plasticidade cênica, já que muitos dançarinos sobem ao palco pela platéia.
Renato tem uma característica forte e expressiva, que já pôde ser vista em trabalhos anteriores, e está criando sua própria gramática de movimentos. É interessante observar como o jovem se insere no contexto do trabalho como coreógrafo-intérprete. Em cena, ele se coloca no mesmo nível e posição que seus alunos. Ninguém tem uma importância maior no palco do que o resultado. Um excelente caminho para mais uma trajetória de sucesso.
Ainda no avançado, o Studio de Sapateado Juliana Garcia (Ribeirão Preto), de Juliana Garcia, trouxe "Pentagrama", revelando a delicadeza de "Garota de Ipanema", de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, através de intérpretes que sapateiam entre elásticos brancos que fazem referência direta ao pentagrama da partitura musical.
Outro trabalho interessante foi "De Volta aos Anos 70", de Vera Passos. O cenário com fotos das próprias alunas revelaram um figurino típico de época e um bom nível técnico, fazendo a apresentação a melhor da categoria júnior.
Os trabalhos foram bons, porém, há alguma ressalvas. "Happy Feet", que não precisa de apresentações, não é um filme que traz grandes surpresas musicais. Mano, o pingüim sapateador, dá vida às canções do filme porque atrás de sua doçura está Savion Glover, um dos maiores sapateadores da atualidade. Talvez fosse mais interessante deixar essas composições para a interpretação de Mano (Mumble ou Glover, como preferirem). A repetição dessas músicas cansa e é preciso criar.
Outro ponto importante é rever o nome de alguns trabalhos. Em certas coreografias não há coerência do título proposto com a movimentação. Mais difícil ainda é quando nem o nome da coreografia tem relação direta com o figurino. Apesar da noite ser do jeans e da legging, presente na maioria das montagens, esse trabalho de junção de linguagens – uma conversa entre título, figurino e movimentação – não aconteceu de forma muito entrosada.
Na noite que também foi dos clássicos de repertório e da chuva (haviam goteiras no palco), o Balé Jovem do Centro Cultural Gustav Ritter, de Goiânia, apresentou "Grand Pas Classic", de Gsovsky, sem decepcionar. Os bailarinos Dhaniel Amaral Vieira Barros e Marília Cardoso Lício estavam entrosados e ela, dona de uma boa técnica de sustentação, mostrou como os ensaios valeram a pena.
Porém, a competição de quarta-feira foi de "Talismã", de Marius Petipa (1822-1910), com remontagem de Jorge Teixiera para a Companhia do Conservatório, do Rio de Janeiro. Os bailarinos Flávia Gomes de Oliveira e Carlos Wellington Bezerra Gomes foram impecáveis. Flávia trouxe ao palco a leveza desta montagem de Petipa, com braços delicados, pernas altas e alongadas e excelente interpretação. Gomes levou o público ao delírio. Além de não errar nenhum dos mais de 35 giros que executou com perfeição, se mostrou um partner competente que dá segurança à bailarina. De fato, uma noite memorável, que talvez tenha revelado o melhor bailarino (clássico) do festival.
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